Páginas

2012-03-18

As Escolas e a Desigualdade


Em Portugal a maioria das pessoas concorda que o Estado deve fazer algo para mitigar a desigualdade, seguindo uma tradição europeia que, no pós-guerra, apesar dos muitos e importantes ajustes de realismo, continua a imperar. Ao contrário dos Estados Unidos, nunca na UE houve uma vontade ideológica predominante, mesmo das várias correntes maioritárias da direita, de sujeitar totalmente alguns sectores de serviço público, tais como saúde e educação, à mão invisível do mercado.

Foi decidido em 2008 que, de acordo até com as políticas da UE de combate à crise financeira, era necessário aumentar o gasto público para criar emprego e injectar recursos na economia. Isto coincidiu com algumas políticas do outro lado do Atlântico. No caso dos países europeus com menos recursos, isto levou a uma situação insustentável por factores internos e externos. Em Portugal houve na sua maioria mau investimento, não reprodutivo e socialmente pouco relevante.

Uma das excepções ao mau investimento foi a criação da Parque Escolar, para reabilitação em massa das escolas do pais. Na prática sofreu do mesmo mal histórico que muitos dos investimentos do estado português: o descontrolo orçamental, alguma opacidade e o favorecimento de empresas com mais peso junto do anterior governo; mas sofreu de um bem: o mérito do que se propunha atingir.

Em termos de oportunidades e confortos, se há sítio onde o estado pode e deve influir na mobilidade social e, por isso, no futuro do país, é na educação. O estado não pode levar as crianças das classes mais baixas às compras ao El Corte Inglês, nem lhes pode proporcionar uma casa confortável, nem as pode apresentar às pessoas certas para singrar na vida, nem as pode levar num avião a ver mundo, nem lhes pode educar e enriquecer miraculosamente os pais. Claro que não pode. Mas isto não quer dizer que não possa proporcionar um ponto de partida mais equitativo para todos.

Quando se visita um colégio privado, mesmo que não falemos em luxo, temos salas bem equipadas, temos recintos para vários desportos, comida saudável e actividades extra-curriculares. Por outro lado, temos em muitos casos uma matriz religiosa e conservadora e elites sociais a serem criadas em circuito fechado, com o conhecimento da realidade manchado pelo meio natural em que se movem.

A Parque Escolar produziu escolas arquitectonicamente interessantes, com conforto térmico (alguns gritam “aqui d’el Rei, o luxo!”) e condições acima da média. Produziu também erros, sem dúvida; que se corrijam, porque tudo o que se possa fazer para melhorar as escolas públicas, dentro dos possíveis, é meritório e pode aumentar a mobilidade social desde cedo. Quem não acredita, que consulte o conceito da mão invisível e o aplique aqui.

0 comentários:

Enviar um comentário